15 segundos


Por Gabriel França


Algumas semanas atrás, aconteceu uma palestra em um dos milhares de auditórios do ICHL, que dizia respeito à Violência contra a mulher. A palestra teve vários pontos de vista e observações pertinentes ao assunto, mas o mais curioso (e o mais relevante pra mim) foi o vídeo “15 segundos”, resultado final do trabalho de monografia de Caio Mota e Cleidimar Pedroso.

Dois dias depois, me pediram pra escrever um texto pro blog a respeito do assunto. Eu concordei sem problemas, mas logo em seguida percebi que tinha me dado muito mal. Por algum motivo, eu, que sou homem, tenho problemas muito sérios de branco totais para escrever a respeito disso. Até que outro dia, me peguei distraído, sem nada pra fazer, resolvi passar as estações de rádio até que uma me fez parar.

Em seguida, eu passei 20 minutos ouvindo um homem criticar as mulheres de hoje em dia por não tratarem seus maridos como deviam. Para citar algumas de suas pérolas: “Eu nunca ouvi nenhum amigo meu me dizer que se apaixonou pela mulher dele porque ela andava feito uma macaca”, “Você quer receber seu marido sem jantar na mesa e ainda quer manter seu casamento?”, “Seja do seu marido, seja um com ele”. Isso me fez lembrar a frase mais marcante do vídeo “15 segundos”: “De cada 100 mulheres, você consegue encontrar uma que preste”.

Os dados atuais dizem que a cada 15 segundos uma mulher é agredida no Brasil. E eu vou ter que concordar, porque sei que meus vizinhos adoram uma briguinha doméstica e só Deus e as moscas sabem o que acontece na casa deles.

Enfim, esse discurso todo não é nenhuma novidade para ninguém. E o que eu percebo, observando meus vizinhos e outros casos conhecidos é uma obsessão masculina infinita por ser a figura de poder dentro de sua casa. É evidente que esse pensamento é filho primogênito da sociedade machista em que nascemos e somos criados (e se você acha que a sociedade não é assim, pense de novo e volte a ler o meu texto desde o começo). Os motivos que levam os homens a bater em suas damas são os mais variados e a maioria vem de fraquezas psicológicas, que naturalmente vem de outras famílias também problematizadas, o que quer dizer que isso tudo é círculo vicioso e que cabe aos agressores e as agredidas encerrar a situação.

E eu não sou de levantar bandeiras, não sou de sustentar causas, mas fico aqui me perguntando: Bater pra que? É pra ajudar a tirar o stress? Vai jogar futebol, macho! Quer que sua mulher te trate melhor? Compre uma roupa pra ela, todo mundo adora um presentinho. É pra sair da rotina? Então seja inovador: Pegue uma melancia e vá comer no telhado! É simplesmente pelo prazer de bater? Peça um saco de pancadas do Papai Noel, mas tome cuidado, por que ele só leva se você for um bom menino.

Discursos machistas a parte, eu vou rir por muito tempo do peito que o moço do rádio teve em dizer o que disse, logo agora que as mulheres estão virando as donas do pedaço. Nada contra vocês, rapazes. Por favor, não me batam.

Revisão: Larisse Neves

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